Blog sobre minhas experiências como professor de Ensino Fundamental e Médio e divagações filosóficas a respeito
Quem sou eu
- Lawrence David
- Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
ENEM
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Loucura
Proteção
Fotografia por Inezita Cunha.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Não-lugares
Foto by Inezita Cunha
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Palavras
sábado, 28 de agosto de 2010
Adolescentes
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Crianças
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Mudança
Pague muito bem os professores. De preferência que eles trabalhem tipo, 20 horas por semana e tenham também tempo para ler, fazer cursos, ir ao cinema, ao teatro, levar a filha ao parquinho para andar de balanço, praticar esportes. Tudo bem, se for 40 horas, o cara, por dedicação exclusiva, ganhe tipo 50% a mais em cima do básico. Ah, e sem esquecer um tempo para uma viagenzinha.
Professor tem que ter, pelo menos, 3 meses de férias, por estar metido em uma das profissões mais estressantes, arriscadas e monótonas de todas. Corrigir 300 provas que envolvem 30 coisas diferentes dá um nó na cabeça e no braço de qualquer um. Estar sujeito a tomar rasteiras, receber empurrões, sofrer Cyberbuylling, ser atropelado na saída da escola por pais descontrolados, não é fácil. Ficar repetindo a mesma aula pra 5 turmas diferentes, uma atrás da outra, no mesmo dia ninguém merece.
Obrigar as mantenedoras a manterem um quadro funcional realmente capaz de dar conta do negócio, sem sobrecarregar ninguém, para que o serviço seja bem feito. Admissão de funcionários, só por concurso. Concursado exerce só a função do concurso. Que tenha pra tudo: Bibliotecária, Orientadora, Psicóloga, Supervisora, e até, professora. As escolas, (todas) têm que ter, direções eleitas pela comunidade, com cada voto valendo o mesmo.
Todas as Escolas têm que ter: Projeto Político Pedagógico, regimento, e sistema de avaliação autônomos, mas, não podem desrespeitar princípios básicos da carta maior que é a LDB. Aliás, precisa ser melhorada e algumas questões têm que ser mais especificadas do que na atual. Também não pode faltar, uma ótima sala dos professores, com sofás pra gente deitar entre um turno e outro, microondas, pia, ar condicionado, muitas cadeiras, pelo menos 2 mesas e poltronas. Não pode faltar sala de informática, anfiteatro, ginásio poliesportivo, ampla e atualizada biblioteca, um datashow e aparelho de som, dvd e computador em cada sala, tudo com acesso a internet banda larga. Muitas tvs, música ao invés de sirenes, cursos gratuitos de música, festivais de teatro, pintura e redação. E, claro, lindas festas.
As turmas não devem ter mais de 25 alunos, em qualquer nível do ensino básico, e 35, no médio e no universitário. É claro, têm que pagar mais professores, ampliar o quadro funcional para dar conta de mais essa tarefa. Acho que essa é particularmente importante hoje em dia pois quem está em sala de aula sabe o que é o nível de agitação dos jovens de hoje. Além do mais tem gente de todas as classes sociais lá, o que aumenta a tendência ao choque de culturas, brigas, pegação de pé, panelinhas, desunião, etc.
Passar a ver combate a drogas como uma consequência da sociedade opressora e não como causa dela. Tratar o viciado como doente e não como criminoso. Combater as drogas usadas pelos ricos mais do que as usadas pelos pobres, pois é aí que está o furo. E principalmente, pensar melhor a jurisprudência a respeito do assunto. Copiar os exemplos bem sucedidos e descartar modelos mal sucedidos peremptoriamente como o nosso.
Convencer a burguesia brasileira de que um povo bem educado é só lucro pra ela. Tá bem, se esse povo eleger alguém á esquerda, seus burgueses, vocês vão enriquecer mais do que com alguém da direita. Ah, se a gente fizer reforma agrária, vai ser melhor pra todo mundo, inclusive pra vocês.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Educação
domingo, 1 de agosto de 2010
Volta
Voltar para aquilo do qual nunca saímos. Eis a dificuldade de encarar a volta. Vamos longe agora sem mais fugir. Vamos até o fim lutando baravamente, contra aqueles que nos importunam cotidianamente, geralmente por questões mesquinhas e sem importância e relevância para a sociedade. Geralmente motivos mais pessoais. Vamos lutar contra a falta de dinheiro, tempo, paciência, saldo bancário, esperança de significativa melhoria, esperança de melhorar o mundo com a ajuda de todos. Vamos dar alô a um grande BASTA nas coisas que estão erradas em nossa vida. Vamos consertar uma por uma, sem preguiça.
Caminhar vagarosa e atentamente para o descanso merecido, as festas, as férias lá perto do fim do ano. Sonhando a todo momento com a praia em que vamos estar, o cheiro da areia, o gosto sal, o cansaço à tarde. Aquela companhia que se faz distante, mais próxima, o cheiro, o gosto, a silhueta mágica. A saudade do que não veio misturada com o todo vivido em outras praias. Sentir a maresia é preciso, a cada instante na volta. Pra volta ser gostosa.
Dizer olá, beijar a todos, sentir a alegria de compartilhar o mesmo espaço, a mesma comida, as mesmas relações, solidas ou instáveis, matéria do dia-a-dia do nosso trabalho. Sempre tão quente, borbulhante e exigente. Lá vamos nós transformar a massa (cinzenta) em algo aceso, vivo, brilhante. Quem consegue mais nesse inicio? Quem conseguirá, nos primeiros dias chamar mais positivamente à atenção de nossos pupilos? Quem deseja e se esforçará para isso?
Quem merece estar aqui? Quem acha que já lutou (pra voltar) o suficiente em sua vida ou aqueles que tornam cada dia em uma constante (revira) volta em seu trabalho? Sim, porque mestre que não se revoluciona todo tempo não é mestre. Não é mestre aquele que apenas revive um pobre e tedioso repeteco automatizado e quase mecânico de suas próprias neuroses, transformando isso em aula. Se é que isso é uma aula. É preciso fugir disso, buscar sempre alternativas de socorro à carência, à falta de apoio ou reconhecimento de seu devir. Isso deixa nossa auto-estima lá embaixo.
Mas sobrevém sempre aquela vontade de mudar, achar novas e criativas maneiras de reinventar a rotina, principalmente quando se trata de educação, fenômeno no qual a criatividade é fundamental. Não podemos esquecer de improvisar com nossas virtudes, surpreender com nossos anseios e sonhos, como qualquer ser humano faz quando se trata de relações. Não há aproximação, e portanto aprendizado, sem a atenção devida e a abdicação respeitosa, sem a percepção de que somos como irmãos mais velhos conduzindo a nova geração a uma possível vitória sobre o difícil futuro que se avoluma à nossa frente.
Foto: Inezita Cunha
domingo, 18 de julho de 2010
Férias
Me decepcionei um pouco essa semana com (quase) todos os colegas que divergiram da opinião do Presidente Lula de que não se deve de forma alguma bater em crianças e que a conversa é melhor que tudo. As pessoas continuam achando que a melhor forma de acabar com a violência é a própria violência. Esse complexo de talião em que vivemos, tem que acabar. Nossa revolta contra esse mundo injusto, nossas questões mal resolvidas internamente não podem desaguar em ensinarmos aos nossos filhos que cometer um ato brutal, causando dor a outro ser humano, significa educação, ou mesmo resolução para alguma pendenga de nossa sociedade.
Como todos que me conhecem sabem, sou da opinião de que não se deve, em hipótese alguma cometer atos violentos, principalmente contra nossos filhos. Prego isso na prática porque é assim que crio minha filha, que, creio, sem nunca ter recebido sequer uma palmada, é uma criança muito bem orientada, na escola inclusive. Pai que bate é porque não quer conversar, tem preguiça de dialogar ou não se sente seguro ou em condições disso. Aí apela, deixa sua raiva, sim, não neguemos que temos raiva das crianças, porque isso faz parte de sermos humanos, ter raiva.
Para disfarçar a falta de controle ou incapacidade de relacionar-se adequadamente, vêm as mais desbaratadas desculpas. De que se não batermos em nossas crianças não os estaremos preparando para a violência do mundo lá fora, como se a violência precisasse ser ensinada. De que “foi assim que meu pai me criou”, então, porque meu pai fazia, e não tinha razão, eu também devo fazer. Ou pior, “apanha em casa pra depois não apanhar da polícia”, como se os bandidos não tivessem sido exatamente aqueles mais acostumados a conviver com a violência.
Mas não adianta, a necessidade de compensar a impotência diante da sociedade com a prepotência diante dos menores, somada á falta de informação e aprimoramento tornou o brasileiro insensível. Ele está tão fustigado e atraído pelo violento, pelo apelo frenético da inquisição nossa de cada dia, pelo “deprê show” cotidiano, que nem se dá conta de onde está metido. Perdeu seus parâmetros lógicos de percepção da vida como algo tranquilo.
O Brasileiro precisa é tirar férias. Férias de si mesmo, do Brasil, do noticiário, do egoísmo, do shopping center, do sindicato pelego ou ideologicamente manipulado, dos políticos manipuladores, das contas que só aumentam, dos comerciantes que nos enganam, dos que nos roubam e exploram. Só mesmo o Brasileiro não sendo do Brasil pra cortar fora a violência de si mesmo e do que está à sua volta. Só mesmo uma boa dose de alienação pra trazer de volta a razão.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Inclusão
Muito bonita essa coisa de colocar todas as diferenças juntas, para estimular a tolerância entre elas. Negro e branco, rico e pobre, feio e bonito. Ali no meio o aluno com necessidades especiais. É o retrato da sociedade como um todo. Toda a sua pluralidade incluída no espaço escolar em convívio diário. Isso é bom? Sim, pode ser, deve ser.
A luta pela inclusão faz parte de algo maior, de um processo de democratização do Brasil, que deve passar pelo econômico, cultural e político transpostos para o âmbito educacional. Hoje, quase todo mundo está na ou tem fácil acesso à Escola Pública. Essa realidade é uma grande conquista de todos, que fizeram ou fazem alguma coisa pela educação, que batalharam pela democratização do país, que elegeram alguns bons políticos que por um motivo ou por outro acabaram escrevendo e ajudando a promulgar leis que qualificaram nosso aparato educacional.
Mas essa inclusão produz muitos conflitos. A jurisprudência que dá forma à configuração atual de nossa escola obriga-nos a aceitar essa pluralidade, o que fazemos com muito gosto como educadores conscientes que somos. Mas gera contradições que, temo, não tenhamos condições de superar sem que a sociedade civil e os poderes públicos se concentrem em promover sua superação.
Um professor médio brasileiro, não consegue ensinar adequadamente vários tipos, por exemplo, de alunos especiais. Um síndrome de down, um estudante com algum tipo de limitação cerebral aprendem de maneiras que não conseguimos perceber em nossa rotina de muitos alunos, 40 ou 60 horas semanais e aulas aos sábados. Já temos muita dificuldade em educar os “normais” que estão cada vez mais arredios e desmotivados, e aí nos sobra pouco tempo para aprender sobre esses fascinantes diferentes. Será que não se sentiriam mais integrados em uma escola entre iguais ou parecidos a eles? É possível que, por um lado sim, apesar da legalidade hoje apontar para a inclusão em uma conjuntura de iguais sendo dessemelhantes.
Há ainda o problema do individualismo, carência e competitividade. O Bullying nosso de cada dia indica uma tendência crescente em rejeitar o diferente. É uma loteria. Se um aluno especial der a sorte de pegar uma turma “boa”, pode ser que ele consiga produzir melhor, se sentir mais afetivamente ligado aos colegas e progredir.
Por isso a enturmação e os projetos de integração entre as turmas podem ser fundamentais para que a escola seja bem sucedida em incluir a diversidade. Os laços de solidariedade presentes em comunidades do interior mais tradicionais e ao mesmo tempo abertas têm produzido resultados entusiasmantes. Nas grandes capitais um processo contrário tomou conta do dia-a-dia: a rejeição, a desconfiança e a “panelagem” levaram à formação de um jovem consumista e hedonista que, portanto, não tem tempo para pensar no semelhante, e se dedica única e exclusivamente à adulação constante e passiva do próprio ego.
O vírus da globalização já está chegando nos confins do mundo via internet o que massifica ainda mais os hábitos da gurizada. Sem uma orientação nesse sentido, o das novas tecnologias, ninguém vai chegar a lugar nenhum, porque a cabecinha dessa geração está sendo moldada por ela. Nesse torvelinho de novidades e mudanças em ritmo acelerado, a inclusão trilha por tortuosos caminhos de desinformação em plena era da informação, nos remetendo a uma incerteza sempre presente de um sucesso próximo ou a velha espera sem prazo de validade.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Patrimônio
Puxei do bolso meu chaveiro e vi um retângulo azul de latão onde se lê a palavra “História”. Tive uma estranha sensação de êxito. Abri meu estojo e estava lá o lápis roxo metálico. Lembrei-me da Sílvia e da Andriele que me presentearam com tais objetos, uma há dois e outra há cinco anos atrás, provavelmente jamais vou esquecê-las. Não só pelo souvenir doado mas porque foram pessoas com quem fiz boa amizade.
Tudo o que um professor tem como profissional ele constrói com a fina flor do seu relacionamento interpessoal com todo mundo que diariamente passa em sua frente na escola. Sua maneira de lidar com os professores, vice-diretoras, pais ou alunos determina a rede de influências que implicará em maior ou menor grau seu sucesso profissional.
A delicadeza ao conduzir tal trama é fundamental para o cotidiano. Dar sempre bom dia ou boa tarde, conversar sobre assuntos variados de maior ou menor grau de importância com todos, resultando em uma aproximação coloquial da qual todo o ser humano gosta. Não tomar atitudes intempestivas ou demasiadamente radicais é bom para manter o equilíbrio e resolver tudo com sapiência e tranquilidade. Despedir-se com educação perfaz o espaço que liga um encontro ao subsequente.
Conversar, sempre muito, fazer laços pessoais com o maior número de colegas possível, filosofar, discutir os rumos da humanidade, falar besteiras e contar piadas. Não da pra excluir nunca isso da aula. É mais que parte integrante, é o princípio básico. Assim a doença do esquecimento nunca tomará conta de qualquer envolvido, nem do processo escolar. Não nos esqueceremos em nenhum momento que antes de tudo somos seres humanos, ou melhor, que todos são. Não coisificaremos nenhuma relação, atitude ou pessoa capaz de fazer o que nós mesmo fazemos, de sentir o que sempre sentimos.
Qualquer inobservância a essa estratégia retirará o foco do que há de mais primordial em nosso trabalho. Nos afastará de nossa própria essência enquanto espécie. Nunca esqueçamos que viemos uns dos outros desde que nossos ancestrais caminhavam amedrontados pela planície, em busca de caça; eis aí o fundamento do conhecimento: se defender da violência da simples “Natureza”, predatória biologicamente. Inventamos nossa sociedade, e tudo pelo qual ela foi construída não é diferente de nós mesmos em nosso devir. Jamais devemos nos afastar de tal fundamento.
Ajudar antes de tudo. Colocar o que temos de melhor à disposição do outro, a única maneira de educar. Doar-lhes nossos exemplos e estudos memorizados, nossas virtudes internalizadas, nosso conhecimento vivido intensamente, nossa arte de sobreviver. Não há outro caminho a não ser abrir as portas da beleza do universo para quem quiser entrar.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Divididos 2
É como se jamais nos encontrássemos verdadeiramente pra tentar entender o que está acontecendo no mundo. Porque falamos línguas diferentes, temos visões de mundo muito diferentes, temos interesses divergentes. Alunos e professores, em um certo sentido, pouco se encontram pra viverem a vida uns com os outros. Pra entenderem como pensa o seu par. Não, cada grupo vive o só seu, mas não há coletividade entre os grupos. Estão seccionados.
Movidos por energias divergentes eles não se entendem. Um aluno não entende muito bem aquelas lições de moral que nada têm a ver com o que os da sua idade falam e pensam. Os professores não entendem como o aluno pode se vestir daquele jeito, falar daquele jeito e compulsivo, ouvir aquela música horrorosa, etc.
Um aluno não entende (e nem quer entender) como os professores podem achar que aquilo que eles pensam estar ensinando tem assim tanta importância se há tantas outras coisas mais interessantes para se pensar ou fazer. Os professores não compreendem como os jovens podem passar tanto tempo mexendo no celular, falando no msn ou passeando num shopping.
Já começa pela chegada. Os professores desejam que os alunos entrem logo para aula. Eles querem fugir. “Entra logo fulano que o professor não deixa entrar depois””Tudo bem eu não gosto daquela aula mesmo”. “Se o fulano não vier hoje é zero na prova e mando chamar a mãe”.
Não dá, são universos consistentemente diferentes e têm que ser misturados todos os dias. Quem tem mais condições de agir, mudando sua maneira de agir e suas metas em virtudes escolares? Nós ou os alunos?
Divididos 1
Ideologizados e separados estamos todos
Divididos, seccionados como bobos, como lobos
Ignorados da verdadeira razão enobrecida
De comungar educação em uma vida
Ficamos soltos sem amarras uns aos outros
Livres tolos se amam pouco tristes rostos
Que dividem o afeto com os iguais
Mas ignoram sem piedade os juvenis
Tola aula doida causa que me amarra
A não querer igualá-la a dura alma
Me trai ao ser o que não quero
Tolo sou de hoje bem mais velho
Que sem poder fugir ao que espero
Mais me penso igual ao que me espelho
sábado, 3 de julho de 2010
Dramatizações 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Médio
Um grande Nada toma conta dos estudantes quando eles saltam do ensino fundamental pra o antigo “segundo grau”. Eles ficam bem desorientados. Sentem o verdadeiro peso de sua ignorância. Quase metade deles é reprovado no Brasil de hoje. Esse ciclo começa com um grande fracasso e com uma dúvida? O que é que eu estou fazendo aqui? Para onde eu vou? Geralmente chegando no nada, não há nada a esperar.
Lá na última série (se ele conseguir chegar lá) vai começar a ficar realmente em dúvida sobre o que vai querer de sua vida como adulto. Vai prestar vestibular, o que cada dia fica mais raro. Ele não sabe bem pra que. O Ensino Médio não responde às dúvidas e anseios do estudante. Ele não sabe para onde ir. Alternativas como o pós-médio (cursos técnicos) se tornam realidade com a necessidade cada vez mais premente de entrar logo no mercado de trabalho, mas ele não sabe bem se é isso.
Em terra Brasilis o Médio não tem especificidade. Não recupera a defasagem anterior, isto é, do ensino fundamental, simplesmente reprova ou evade 50 ou mais por cento dos cadidatos. Não apresenta tampouco qualquer especificidade. São os mesmos “conteúdos”, em geral, vistos de forma um pouco mais aprofundada. Há montanhas a serem subidas, principalmente na área das exatas: matemática, química e física muito mais difíceis e substancialmente diferentes. São essas o pavor da galera, quando não tem um professor de História ou Português mais mala que também gosta de reprovar.
Pior, tudo no plano da abstração. Pouca prática e muita teoria. Impraticável pra os estudantes brasileiros. Na organização curricular, pelo menos matemática tem todo um destaque e uma enormidade de períodos a mais que outras disciplinas. Herança portuguesa e sua paixão pelo positivismo e sua inspiração cartesiana no cálculo, anti-iluminista coimbrense (Aliás, eu não sei como professores que têm o dobro de períodos que eu, e a metade do número de alunos, consegue reprovar 100 por cento a mais ... ???)
E cobra nota, muita nota. Cobra disciplina e obediência, cobra postura de adulto, mas vive-se em um estado ocorrencial policialesco onde os alunos são tratados como menores infratores, infantilizados pelo controle de atrasos e atas administrativas. Cobra-se maturidade mas trata-se com infantilidade.
Ah, e tudo é para o Vestibular. As provas objetivas predominam, para facilitar a correção dos esgoelados professores brazucas, e também porque é para o vestibular. Lê tais livros porque cai nos vestibular. O Ensino Médio virou um grande cursão pré-vestibular e perdeu a especificidade, é um nada. Ah, mas os mais espertos se deram conta que não funciona, porque temos que dar nota no ensino médio e isso não funciona quando se fala em vestibular onde a nota é algo ponderado entre várias disciplinas, então inventaram o Terceirão. Por que não erigir logo um Quarto ano?
Mas esse meio caminho entre a infância e a vida profissional continua vazio sem uma orientação vocacional. Sem um espaço onde o aluno possa imaginar o futuro. Um espaço criativo onde ele possa criar uma alternativa de vida nesse mundo tão surrado e egoísta. E aí ele se ressente daquilo que mais faz falta no mundo de hoje na educação: a arte. O vazio artístico, a miséria intelectual em que se encontram a maioria de nossos adolescentes não poderá jamais ser sanada se os senhores da educação não pensarem uma educação mais prática, artística, crítica e mais baseada na realidade cotidiana do aluno Brasileiro, que , meio às cegas, mas com sinceridade, busca ansiosamenete seu espaço na sociedade brasileira.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Bullying
Acho tão interessante que nesse começo de século as autoridades educacionais do mundo inteiro estejam se interessando por um fenômeno que sempre existiu na educação. A intolerância às diferenças, o complexo de superioridade de certas pessoas que descarregam nos mais frágeis suas frustrações é algo recorrente e desde sempre, em minha vida de estudante, aprendi a conviver com isso.
Fiquei sem caminhar durante dois longos anos por conta de uma doença que tive em minhas pernas. Sim, fui cadeirante. Sorte minha que no princípio do tratamento, quando tinha 10 anos apenas, morei em Curitiba onde, atesto, o Bullying não existia. Fui tratado com toda a dignidade e respeito que merecia e não havia dificuldades porque era um aluno excelente, sempre entre os melhores da classe, o que chamamos de CDF.
Mas, no ano seguinte, de volta a Porto Alegre, comecei a sofrer as conseqüências de estar imobilizado e ser muito bom aluno. Certos coleguinhas cuja mamãe protegia-os de tudo não aceitavam minha língua pronta para responder – inclusive suas provocações – e se aproveitavam de minha condição desvantajosa do ponto de vista físico. Na quinta série me isolavam em algum canto do pátio, apesar de meus gritos inaudíveis em meio à multidão, e me apedrejavam com torrões de areia. O caso ia parar na direção e minha mãe sofria para convencer a diretora a tomar alguma providência, uma vez que os abusadores eram filhinhos de famílias ricas.
Na sexta série a coisa continuou, mas como minha sala era no piso térreo era mais difícil me incomodar e, já cientes do problema, as auxiliares de disciplina me vigiavam melhor. Mas, na sétima a coisa tomou proporções gigantes. Me faziam ameaças e constrangimentos psicológicos constantes, dizendo que se eu revelasse a pressão, iriam me matar ou surrar, já que eu estava caminhando e ia a pé pra casa. Depredaram o carro de minha mãe quando finalmente contei, e continuei tomando chutes, socos e pontapés durante um bom tempo até que as famílias criaram consciência dos monstrinhos que tinham em casa e apertaram o cerco. Tudo cessou, até fiquei camarada de alguns dos meus opressores e, na oitava, pra evitar outros constrangimentos, a direção mudou todas as turmas, por conta de outros casos semelhantes, e aí criei a minha turma de adolescência que foi muito legal e inesquecível, mas isso é outro papo.
Por que só agora essa lei? Não carecemos de outros relatos sobre o tema, nos filmes de Hollywood ou mesmo nos europeus, e parece que surgiu tudo agora. E mesmo com a lei, vai continuar, sabe por quê? Porque a intolerância faz parte do processo escolar. É preciso mais que leis pra curar essa ferida.
As leis não terminam com a absoluta falta de integração entre as turmas de uma mesma escola – e porque não dizer “rivalidade” – e com toda a competitividade egoísta e desmesurada da comunidade escolar. Com o “empurra pra lá” porque o problema não é meu dos pais e dos alunos. Não vai mudar a mentalidade conteudista-tecnicista-behaviorista do currículo e do método de ensino dos professores que é altamente alienante.
Nós também não deixaremos de sofrer o “Bullying Nosso de Cada dia” por parte dos governos que pouco ou nada fazem pela educação e ainda nos culpam por todos os seus problemas, inclusive financeiros. Leis são muito boas, mas, infelizmente, são apenas o começo.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Clube
- E aí, quantos ficaram em provão contigo?
-Olha, eu acho que tem a metade da 1, dois terços da dois e quase toda a três ... deixa eu ver ... uns oitenta!
-O quê? Só na segunda série?
-É, e na primeira, a não ser na turma 1, ficou também quase todo mundo, mais uns 120 alunos.
-Então a direção vai botar umas três salas só pra ti no dia?
-É, e tu podes me ajudar, não?
- Claro mas eu também tenho uns 100 alunos em prova final ...
-Pois é são muitos né ...
-É. Esses alunos são muito fracos. Não prestam atenção, tão sempre brincando ...
-Imagina, eles nem sabem a formula de báskara ...
-O quê ? No ensino médio e ainda não decoraram?
-Pois é, eu que não vou ficar ensinando isso né, matéria de 1° grau ...
-Que barbaridade, né, os tempos não são mais os mesmos. Na minha época era tão diferente.
-Mas, mudando de assunto, tu ainda dá aulas particulares?
-Claro, eu estou com uns ... nove alunos fixos e mais uns três que vêm de vez em quando.
-Pois é, os pais daquela turma bem fraca da manhã, sabe? Vieram me pedir pra indicar um professor pros filhos. Eu fiquei louca pra dizer que eu também dava aula particular por 40 reais a hora (risos), mas não dá, não é ético, então pensei em te indicar ...
-Claro, amiga, faça como quiser, é uma prazer ... e uma graninha extra né.
-E tu também, se tiveres alguém, me manda, tá.
-Tá boa sorte e feliz ano novo.
-Prá ti também.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Salário
Tenho criticado aqui nesse blog publicamente a postura de certos colegas com relação a vários assuntos do cotidiano escolar: avaliação, violência, gramática, etc., mas isso não significa que eu não perceba muito claramente o que a maioria dos governos, sejam de instâncias diferentes, têm feito com aqueles que deveriam ser os profissionais mais bem pagos do mercado; os professores.
Em um não tão remoto passado os mestres lutavam por seus direitos em praça pública e eram aplaudidos e apoiados por toda a sociedade. Mães e pais de família pelo mundo afora tinham plena consciência que nas mãos daqueles preparados técnica e afetivamente para serem os transmissores, produtores e pensadores de uma determinada cultura residia o próprio futuro de toda uma sociedade e sua juventude.
Hoje há uma exagerada lente de aumento sobre nossas cabeças. Querem nos fazer pagar por tudo aquilo que jamais nos deram. Exigem de nós uma perfeição e uma capacidade que nenhuma sociedade jamais produziu. Uma grande confusão vem sendo feita pelos meios de comunicação a favor de certos grupos sociais inimigos da democracia e do desenvolvimento por conta do terror perpetrado a essa categoria que, se é uma tanto negligente em alguns aspectos profissionais, é muito mais uma grande vítima da circunstância.
Me dá profundamente nos nervos saber que os medíocres políticos brasileiros querem, mais uma vez, adotar para a tão precária educação do país modelitos importados da nação mais autoritária, competitiva e classista do mundo: os EUA. Como se já não bastasse o esdrúxulo tecnicismo que plasmamos do tio Sam (burramente defendido por muitos nobres colegas) querem agora viabilzar o fascismo em forma de lei: a meritocracia.
Ora, o professor trabalha muito, come mal, ganha pouco, não tem tempo de estudar, leva pilhas de trabalho pra casa, trabalha sábado, não pode fazer greve, e ainda tem que ser ótimo! Ridículo, não? Por que não fazemos o mesmo com os políticos que querem fazer isso conosco? Ou com os pais que apóiam essa idéia absurda de demitir quem aprova menos. Provavelmente querem delegar à escola sua ausência na educação familiar e culpar-nos por mais isso. Geralmente são esses mesmos que defendem com unhas e dentes o sistema seriado de aprova/reprova (eu, obviamente, não gosto desse sistema), mas querem punir o professor que reprova demais. Tenham paciência e me venham com um pouco de coerência.
Seria muito bom que o Brasil fosse a Finlândia. Lá o aluno decide o que quer estudar, o salário mensal é de 2500 Euros pra professores, não há nenhuma avaliação dos mestres, os alunos têm alto nível, todos ganham incentivos para estudar, e a educação vai muitíssimo bem, obrigado. A Finlândia teve um grande crescimento econômico por conta da adoção de um modelo descentralizado de educação nas últimas duas décadas. E nós, cucarachas que somos queremos logo pegar o paradigma americanóide, tão sectário. O Brasil é um país atrasado e tem uma elite retrógrada.
Ah, e não se pode falar
terça-feira, 25 de maio de 2010
Conselho
A professora interrompeu a reunião para falar urgentemente com os seus colegas sobre a situação da turma em que era conselheira.
- Pessoal, eu conversei muito com eles e eles estão falando muito do senhor professor. Uns falam muito bem, outros muito mal. Eu queria pedir que tivesse mais calma com eles, eles são tão carentes, precisam de carinho ...
Interrompi bruscamente e já, indignado.
- Peraí, professora, quer dizer que o problema sou eu. Depois de todas as ofensas que eu ouvi deles ao longo do trimestre, depois de eu ter, na primeira reunião do ano, solicitado falar com os pais deles e vocês terem me ignorado, depois de eu ter poupado a direção de registrar as ocorrências e matando tudo no peito, tu me pedes mais calma ...
Estava explodindo de raiva. A reunião com os pais tinha sido um sucesso, os alunos estavam se encaminhando para a consciência de suas burradas e a profi vinha ali me acusar e dialogar mais ainda, mais e mais. Chega, eles precisavam é de limite.
- Não, professor. Eu acho que temos que ter uma estratégia conjunta para agir com a turma. Eles reclamaram muito de ti ... – lá veio ela de novo me culpando.
- Querem uma estratégia, pois bem: Tolerância zero!
- Mais aí só vai piorar, retrucou – e os colegas desataram a me olhar com olhar de reprovação e foi um bochincho e tanto.
Me senti acuado. Quer dizer que o problema sou eu? Não é a educação que eles trazem de casa que é o problema? Eu tenho que ensiná-los a se comportar?
- Vocês vão me desculpar, colegas, mas estou me sentindo pressionado. Se eu estou com raiva? Sim, sou humano. Eu não sou obrigado aturar o que eu aturo, não sou pago pra isso ...
- É pago pra isso sim, retrucou uma professora, onde já se viu? Dentro da sala de aula tudo é tua responsabilidade.
-Em nenhum momento, respondi bufando, ofendi nenhum aluno pessoalmente, como eles tantas vezes fizeram. Não está na hora de nós mudarmos, professores, não somos nós os culpados pela turma estar fracassando. E eles vão rodar em massa, já vi isso acontecer antes aqui pelos mesmos motivos. Esse grupo está desorientado. Eles têm que mudar seu comportamento primeiro ...
-Mas são só crianças.
-É, mas a terceira pessoa, que é a turma, é um monstrinho bem idiota, que nunca deveria ter nascido, respondi esgotado.
Não é possível que ainda não tivessem se convencido que a educação que aqueles alunos (não) traziam de casa é que era o problema. Os pais que precisam vir a reuniões de turmas muito indisciplinadas adoram reclamar e fofocar fora da escola, mas nunca comparecem pra nos encarar frente a frente.
Por fim uma colega de quem eu gosto muito veio me aconselhar a adotar um espelho de classe para controlá-los e eu retruquei que eles tinham que aprender a se auto-gerenciar, ainda mais uma série avançada como aquela que logo estariam fora da escola. Ela argumentou que era minha missão educá-los a se comportar bem e eu disse que me recusava a fazer isso, que era coisa da família deles.
Enfim, o que era pra ser um Conselho de Classe virou uma guerra verbal de idéias filosóficas sobre educação.
Saí mal dali. Chorei, me arrependi de ter dito certas coisas, não porque estavam erradas, mas porque talvez ali ninguém precisasse, quisesse ou pudesse ouvi-las.
A raiva virou melancolia e depois tristeza. À tarde fiquei com preguiça e não consegui mais fazer nada direito. Não é nada fácil ser professor.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Avaliação
Avaliar é uma das atividades mais importantes que conheço. Analisar algo, avaliar determinado fato, pessoa ou lugar é algo que nos engrandece, nos humaniza. Como gostamos de ouvir um elogio depois de produzir algo significativo, e, é claro, uma boa crítica construtiva que nos fará mudar de atitude na hora de repetir um feito pra fazer melhor. Temos que ter muito cuidado ao investir nesse procedimento pois estamos mexendo com a auto-estima de alguém, seja este importante ou distante de nós.
Na rotina escolar, nem preciso dizer, a mensuração do aprendizado é algo fundamental. É a primeira conclusão, o espelho basilar que colocamos na frente do estudante pra que ele se mire, perceba suas dificuldades e deficiências e, em seguida, tente corrigi-las. Essa é a importância do Conselho de Classe (participativo) como instância essencial do processo avaliativo em termos coletivos, como orientação para o direcionamento do devir escolar.
Converso muito com meus alunos, os oriento, aconselho, ouço suas queixas na horinha de avaliar. Eles merecem esse retorno. Eles querem aprender (quase sempre) e se tornar seres humanos mais completos, mais acabados. Acredito que é o que a maioria ainda vem buscar na escola. Crescimento.
Aí, depois de todo o blá blá blá avaliativo, das risadas, filosofadas e gozos initerruptos sou forçado a atribuir a todo esse complexo ínterim um número. Número? Avaliar é algo, por natureza, qualitativo, e eu tenho que atribuir a isso uma grandeza? Ah, não dá. Ninguém é melhor que ninguém, ninguém é um número, a não ser talvez no sistema carcerário, nos cruéis treinamentos militares ou em uma fábrica. Nenhum aluno é um número ou uma letra para mim.
O que chamamos de nota ou conceito é algo esdrúxulo, inútil e injusto. Prejudica o processo pedagógico, ou melhor, o distorce. Meus colegas se utilizam do poder que têm sobre esse número para outorgar suas crueldades contra as pessoas que ensinam. Desumanizam tudo com seus somar e dividir, com cálculos mirabolantes pra dizer quem é melhor ou pior, ou ainda, quem vale mais. Vou mais além e chamo isso de dinheiro.
Essa moeda está em nossa propriedade, somos os banqueiros escolares (nosso salário é tão pequeno!), aqui somos ricos. Podemos tornar alguém pobre ou rico seguindo nossos próprios critérios. Somos como Deuses mágicos que classificam os pobres mortais segundo nossa própria sabedoria e competência, jogando no limbo da miséria aqueles que julgamos inaptos para o que nos interessa.
É uma grande doença, um vírus que se espalha e vai carcomendo a criatividade, o interesse, a verdade, a beleza de aprender. Isso mesmo, a nota é um vírus corrosivo. Já estamos tão acostumados com esse sistema de educação capitalizado que nem nos damos conta da imensa destruição que estamos causando ao (de) formarmos nossos alunos. Não importa aprender, basta passar.
Eu estudante tenho que ultrapassar essa barreira, e, não, aprender com ela. Tenho que usar de todos os expedientes para conseguir meu objetivo nem que seja fraudar (cola), mentir, enrolar, copiar, e, é claro, tudo com o menos esforço possível, pois aí sobra tempo pra coisas mais interessantes, verdadeiras e prazerosas como jogar futebol, andar de bicicleta, jogar vídeo-game, entrar na internet.
Eu, professor, não dou nota assim fácil não. Minhas provas são muito difíceis, e se eles não ficarem bem quietinhos como eu gosto, eu tiro nota deles, o que eles tão pensando?
Não. Se eles não passarem na minha matéria vão rodar só comigo, eu não passo ninguém, não dou pontos pra ninguém, nem que seja um gênio nas outras matérias. Os alunos é que têm que se adaptar a mim e não eu a eles. Eu ganho pouco mas tenho meu orgulho. E se for desrespeitoso já sabe: perde nota, anulo a prova e mando chamar a mãe, e não adianta ela vir cantar de galo comigo. Ela vai ver quem é que manda.
sábado, 15 de maio de 2010
Arte
Nada mais importante na educação do que a arte. A arte da beleza, da crítica, da profundidade, do emocional. A arte do comprometimento, da criatividade, do amadurecimento. Todo o resto deveria ser secundário. O poder da arte é muito grande, por isso ela é considerada secundária. É uma inversão absurda a que vivemos.
A frieza, a dureza, o sofrimento ao invés da boniteza. A mentira, a hipocrisia, a imposição ao invés da liberdade. São escolhas muito claras do padrão educacional que não deixam dúvidas quanto a seu caráter. Limitador, cabrestador, moldador. Não dá pra falar em ensinar sem arte. Quem não se artistifica se trumbica.
Nada compara uma bela produção plástica, uma pesquisa iconográfica, uma composição metafísica, a uma escritura autofágica. Comemos nossa própria cauda sofrendo com as agruras curriculares onde, nos parece, nada realmente importa. Dinheiro? É o que queremos quando nos educamos? É isso que compramos com nosso dinheiro? Mais dinheiro? Ou será que sabemos o que queremos comprar? Arte não se compra, se faz!
Todos precisam desesperadamente fazer arte com nossos alunos. Eles e nós precisamos disso. Sem criação não há solução. Só repetição não dá o mínimo tesão. É só castração. Abaixo a repressão! Chaga de enrolação, vamos ganhar um bolão! Viva a Educação!
Não é possível que em pleno século 21 continuemos reproduzindo as mesmas práticas de 40 ou 50 anos atrás. Que os alunos falem tão pouco. Que sua opinião seja tão pouco levada em consideração pra quase tudo o que se passa no ambiente escolar. Não é possível que não haja uma democracia plena em uma época em que democracia justifica até as maiores divindades e as piores atrocidades. Não é possível que uma andorinha só faça verão exercendo a função de carrasco peremptório da industriação do ensino. Não!
Mais conversa e menos falação. Mais música e menos sermão. Mais teatro e menos dissimulação. Nossa pátria é nosso coração. Chega de controlação, chega de ódio e recalque. Precisamos de renovação. O novo sempre vem, mas até quando vamos empurrá-lo para o mais além. Chega de clubinhos de conhecimento privado e pouca prática. Queremos aprender no dia-a-dia, onde nos leva nossa motivação. Vamos usar sempre essa tática. Onde estão os ciclos culturais, onde está o envolvimento coletivo, a troca, a confiança, o dividir? Não dá mais pra ser egoísta, todo mundo tem é que ser artista!