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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Palavras


O pedaço menor de sentido, que acrescido de outros pedaços forma o todo de nosso pensamento. Dotadas de grande poder, ajudam a mudar realidades, sustentar regimes políticos e grandes ideologias, bem como iniciar e terminar relações amorosas. Em nosso drama diário são tudo o que conversamos, o conjunto de nossos monólogos, diálogos e principais pronunciamentos. Na educação elas são essenciais, criam e desfazem tudo, “minha pátria é minha língua” já disseram uns por aí, e, principalmente, tornam nosso devir diário terrível ou maravilhoso, dependendo das que ouvirmos ou usarmos.
Se queremos o sucesso como educadores precisamos, com meticulosidade, escolhê-las. Elas ganham o dia ou põe tudo a perder. Estou convencido que algumas atrapalham praticamente em qualquer situação em que apareçam. Criam nexos pejorativos em relação ao processo ensino-aprendizagem porque descumprem princípios básicos que são a elevação da auto-estima do estudante, a flexibilização dos limites do conhecimento de acordo com as possibilidade do aluno e, finalmente, a luta contra o preconceito.
“Repetente”, por exemplo, que é aquele sujeito que foi reprovado no seriado e está cumprindo a série inteira de novo. Ora, ele já está, de uma certa forma sendo punido injustamente porque é obrigado a cursar disciplinas de novo, muitas em que já foi aprovado, às vezes quase todas menos uma. Aí ele é estigmatizado como “repetente” frente aos colegas por alguns professores. Os mestres entre eles também se referem ao aluno por esse termo. É uma discriminação. E um atentado contra a auto-estima do estudante. Eu me gabo de nunca ter usado essa palavra, ao não ser mencionando-a para dizer que eu não a pronuncio. Mas talvez eu seja meio louco.
Agora, anda-se usando o “regular”. Esse aluno é “regular”. O que é regular? É um aluno que não é muito fraco, mas também não chegou na média (aliás, essa palavra 'média' já caducou, agora é melhor somatório). Tá, tudo bem, expressa uma certa ideia. Mas dizer que determinada pessoa de carne e osso é regular, é dar uma carimbada na lata e dizer que aquele lote não é dos melhores. Enfim, se um número já é classificatório e ruim, regular é uma espécie de palavra idiota que representa um meio termo entre o 0 e o 10.
Mas as piores de todas são as ideia-limitantes “matéria”, trabalho” e “conteúdo”. Essas são o veneno da Educação, no mau sentido. Olha, é uma crítica epistemológica ao sistema educacional que é muito auto-limitante e não propicia grande visão além ao seus participantes. O professor de matemática sabe muito de matemática mas nada de outras disciplinas. Matéria pressupõe algo palpável, mas quer algo mais abstrato que que o Ensino Médio no Brasil? Conteúdo significa que tem algo dentro, mas o conhecimento é organizado em grandes campos pra facilitar a compreensão da natureza e não pra separar os campos uns dos outros. Ele está à vista, ao alcance de todos para ser desvendado, vivido e não está dentro de nada. Triphalyum é um instrumento medieval de tortura que deu origem a palavra. Será que sofrimento tem algo a ver com educação?

3 comentários:

Inezita disse...

Puxa vida, comentar o que já está completo, com as palavras tão bem colocadas, fica difícil. Mais um texto de grande qualidade.
Se és meio louco, expressão por ti usada, que bom, pois se todos os "loucos" fossem tão coerentes como tu, a educação tomaria rumos bem mais democráticos e sensíveis às mudanças.

Lawrence David disse...

Obrigado, gata, tu tens sido muito importante para essa minha sensibilidade florescente de educador, e a tua presença constante aqui me anima a continuar pensando e escrevendo.
as palavras nos revelam e revelam os educadores que somos. Uma palavra errada e ... põe-se tudo a perder. É um assunto delicado que pretendo destrinchar mais ainda.

Inezita disse...

Querido, admiro tua capacidade de expressar tão bem o que pensas e sentes. Gosto muito dos teus textos, mas este especialmente matou a pau, disse tudo...palavras.