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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crianças


Tenho pedido a meus leitores que mandem sugestões de temas sobre os quais me incumbirei de escrever. Essa primeira tarefa me parece a mais difícil que já enfrentei. Minha mulher, de tanto ver eu falar de educação e de tanto discutirmos sobre nossos filhos, me encarregou de dissertar sobre crianças. É tão rica a matéria, me sinto tão emocionalmente envolvido com esse assunto que na hora de imaginar o que eu escreveria, me embaralhei. Criança é tão maravilhoso, a experiência de ter um rebento é tão significativa, minha própria infância foi tão inesquecível que senti que nenhuma prosa que se pretenda com estilo e originalidade pode atingir a beleza e o brilho da juventude.
Estar perto delas pela manhã, consertar tudo a partir de um simples sorriso infantil é uma benção. Ensinar-lhes coisas significativas sobre a vida e as sociedades ao longo do tempo é uma missão quase sagrada, tamanha a magnitude do fenômeno juvenil. Partindo desse princípio, de que a era da inocência é a fase mais importante de nossa existência, nós, adultos, deveríamos ter capacidade de tratar os pequenos sempre com o máximo de carinho possível, pois o básico que eles precisam para serem grandes e emancipados, é, além da comida, moradia e escola, muito amor, carinho, paciência, atenção e o menos possível de violência de nossa parte. Isso se resume a limites negociados a partir de nossa orientação, como adultos cientes de nosso papel como educadores.
E aprender, relembrar, reviver. Tudo o quanto já vivemos, revisto, revisado, retrabalhado. As crianças são os verdadeiros porta-vozes do que a humanidade deve ser. Sempre doce, sempre sincera, sempre pacífica. A violência na qual a menina ou o menino se envolvem não é culpa deles. É resultado da educação que lhes damos em casa, na escola, em lugares públicos, quando cuidamos do que veem, leem e escrevem. Criamos nossos filhos à nossa imagem e semelhança. Não são parte de nós apenas biologicamente, mas cultural, afetiva e psicologicamente. Nossos filhos são o que somos, e a partir de um certo momento vão se distanciando e sendo uma outra entidade, original e irrepetível, que tem ideias próprias. Um “outro nós” que tomou rumo próprio.
Ser criança é não ter medo de nada, comida na mesa e roupa lavada. Estudar de manhã e brincar de tarde, de noite a família. Ouvir história, andar de bicicleta, eu sou tua mãe e tu é minha filha. Mamãe posso ir, esconde esconde, fecha essa braguilha. Como é divertido ser assim piá e ter liberdade, de ser quem eu quero, por todos os dias. Ninguém devia nunca deixar de sentir o que sentiu quando criança, sem enrolar, de ser criança mesmo. Porque sem criança o mundo fica sem sentido, perde a graça, pede o encanto, fica vazio, não existem anjos. Porque criança é sempre o mais importante.  

4 comentários:

Carlos disse...

Oi Lawrence, que tema, bah! difícil n'é? Bem na verdade dificil não é pois não há nada mais simples que a criança, tal como você diz, mas claro nós complicamos não fossemos nós adultos, é mesmo isso. Isto tudo me fez lembrar de um episódio muito engraçado que aconteceu em minha vida, quando comecei vivendo com a minha compamheira actual e suas filhas, a minha companheira é de nacionalidade americana, e como todos os americanos pensam que precisava de ler muitos livros sobre a infância, como se relacionar com a criança, e ficava por vezes me dizendo, não vais conseguir fazer com que elas aceitem de fazer isto ou aquilo, e eu sempre lhe respondia, olha e aprende, e muito facilmente com uma palavra afectuosa e com carinho em conjunto com uma explicação válida eu agia e "dizia/pedia" o que fosse preciso, sempre agindo e pensando em mim como criança e colocando-as de tal forma que se sentiam senhores da sua acção e contentes. Sempre lhe disse, à minha companheira e afinal de contas a toda gente que é sempre, digo bem sempre, mais fácil se obter o que se quer com amor. Difícil é sim de o fazer sempre com amor e atenção, pois temos que lutar contra todos os factores exteriores (trabalho, trânsito, cansaço físico e psicológico, e outros tantos) que nos impedem de agir como deveríamos, e por vezes temos acções mais agrestes e sem nexo. Bom isto tudo me faz lembra deste enxerto de uma excelente obra de Gibran:

"Os vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor mas não os vossos pensamentos, pois eles têm
os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã, que vós não podereis visitar,
nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós.
Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem.
Vós sois os arcos de onde os vossos filhos, quais flechas vivas, serão
lançados.
O arqueiro vê o sinal no caminho do infinito e Ele com o Seu poder faz com
que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe."

Lawrence vai firme estou adorando ler as suas divagações. Abraço

Inezita disse...

É isso aí, meu querido, foi o pontapé inicial. Este tema é riquíssimo, é possível passarmos horas debatendo o assunto para chegarmos a conclusão de que tudo é muito simples e que a complexidade está em nós adultos.
Acho que por serem as crianças seres tão maravilhosos é que não me canso de fotografá-las.
Sabes que trabalho na área da infância e da juventude e que as experiências aqui vividas são delicadíssimas, e não há como não ter um mínimo de envolvimento emocional. Suas histórias, seu sofrimento, sua busca por um lar, por carinho, por atenção, por uma infância saudável é apenas a busca do essencial. Falar em material seria hipocrisia, pois desejam simplesmente o amor de um pai e de uma mãe. Triste realidade. Aprende-se com o que se vê, mas a experiência individual de ser pai ou mãe não tem igual.

Inezita disse...

A foto foi muito bem escolhida.

Lawrence David disse...

Pois é, Carlos, as crianças são muito boas como agentes filosóficos. Elas simplificam e complicam nossa vida. Nos fazem perceber que as coisas são mais simples se feitas com o coração e que o amor pode mais que tudo. E nós, por vezes não conseguimos. Com o que trazemos do difícil dia-a-dia de trabalho complicamos tudo pelo cansaço (somos meio vítimas disso) e erramos feio. Mas é só prestar a atenção nelas que também conseguimos resolver nossos problemas pois elas estão lá a nos indicar o caminho e com sua sabedoria inocente nos balizam a verdade.

Inezita, meu amor, obrigado por teres me empurrado nesse mar de sensações que é escrever sobre e, quem sabe, para crianças. Nunca vou esquecer que foi uma sugestão tua. Prometo caprichar bastante para te fazer sentir mais leve em relação ao peso do teu trabalho. Com certeza fotografas crianças divinamente bem.

Gracias a ambos.