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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Bullying

Acho tão interessante que nesse começo de século as autoridades educacionais do mundo inteiro estejam se interessando por um fenômeno que sempre existiu na educação. A intolerância às diferenças, o complexo de superioridade de certas pessoas que descarregam nos mais frágeis suas frustrações é algo recorrente e desde sempre, em minha vida de estudante, aprendi a conviver com isso.

Fiquei sem caminhar durante dois longos anos por conta de uma doença que tive em minhas pernas. Sim, fui cadeirante. Sorte minha que no princípio do tratamento, quando tinha 10 anos apenas, morei em Curitiba onde, atesto, o Bullying não existia. Fui tratado com toda a dignidade e respeito que merecia e não havia dificuldades porque era um aluno excelente, sempre entre os melhores da classe, o que chamamos de CDF.

Mas, no ano seguinte, de volta a Porto Alegre, comecei a sofrer as conseqüências de estar imobilizado e ser muito bom aluno. Certos coleguinhas cuja mamãe protegia-os de tudo não aceitavam minha língua pronta para responder – inclusive suas provocações – e se aproveitavam de minha condição desvantajosa do ponto de vista físico. Na quinta série me isolavam em algum canto do pátio, apesar de meus gritos inaudíveis em meio à multidão, e me apedrejavam com torrões de areia. O caso ia parar na direção e minha mãe sofria para convencer a diretora a tomar alguma providência, uma vez que os abusadores eram filhinhos de famílias ricas.

Na sexta série a coisa continuou, mas como minha sala era no piso térreo era mais difícil me incomodar e, já cientes do problema, as auxiliares de disciplina me vigiavam melhor. Mas, na sétima a coisa tomou proporções gigantes. Me faziam ameaças e constrangimentos psicológicos constantes, dizendo que se eu revelasse a pressão, iriam me matar ou surrar, já que eu estava caminhando e ia a pé pra casa. Depredaram o carro de minha mãe quando finalmente contei, e continuei tomando chutes, socos e pontapés durante um bom tempo até que as famílias criaram consciência dos monstrinhos que tinham em casa e apertaram o cerco. Tudo cessou, até fiquei camarada de alguns dos meus opressores e, na oitava, pra evitar outros constrangimentos, a direção mudou todas as turmas, por conta de outros casos semelhantes, e aí criei a minha turma de adolescência que foi muito legal e inesquecível, mas isso é outro papo.

Por que só agora essa lei? Não carecemos de outros relatos sobre o tema, nos filmes de Hollywood ou mesmo nos europeus, e parece que surgiu tudo agora. E mesmo com a lei, vai continuar, sabe por quê? Porque a intolerância faz parte do processo escolar. É preciso mais que leis pra curar essa ferida.

As leis não terminam com a absoluta falta de integração entre as turmas de uma mesma escola – e porque não dizer “rivalidade” – e com toda a competitividade egoísta e desmesurada da comunidade escolar. Com o “empurra pra lá” porque o problema não é meu dos pais e dos alunos. Não vai mudar a mentalidade conteudista-tecnicista-behaviorista do currículo e do método de ensino dos professores que é altamente alienante.

Nós também não deixaremos de sofrer o “Bullying Nosso de Cada dia” por parte dos governos que pouco ou nada fazem pela educação e ainda nos culpam por todos os seus problemas, inclusive financeiros. Leis são muito boas, mas, infelizmente, são apenas o começo.

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