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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Médio

Um grande Nada toma conta dos estudantes quando eles saltam do ensino fundamental pra o antigo “segundo grau”. Eles ficam bem desorientados. Sentem o verdadeiro peso de sua ignorância. Quase metade deles é reprovado no Brasil de hoje. Esse ciclo começa com um grande fracasso e com uma dúvida? O que é que eu estou fazendo aqui? Para onde eu vou? Geralmente chegando no nada, não há nada a esperar.

Lá na última série (se ele conseguir chegar lá) vai começar a ficar realmente em dúvida sobre o que vai querer de sua vida como adulto. Vai prestar vestibular, o que cada dia fica mais raro. Ele não sabe bem pra que. O Ensino Médio não responde às dúvidas e anseios do estudante. Ele não sabe para onde ir. Alternativas como o pós-médio (cursos técnicos) se tornam realidade com a necessidade cada vez mais premente de entrar logo no mercado de trabalho, mas ele não sabe bem se é isso.

Em terra Brasilis o Médio não tem especificidade. Não recupera a defasagem anterior, isto é, do ensino fundamental, simplesmente reprova ou evade 50 ou mais por cento dos cadidatos. Não apresenta tampouco qualquer especificidade. São os mesmos “conteúdos”, em geral, vistos de forma um pouco mais aprofundada. Há montanhas a serem subidas, principalmente na área das exatas: matemática, química e física muito mais difíceis e substancialmente diferentes. São essas o pavor da galera, quando não tem um professor de História ou Português mais mala que também gosta de reprovar.

Pior, tudo no plano da abstração. Pouca prática e muita teoria. Impraticável pra os estudantes brasileiros. Na organização curricular, pelo menos matemática tem todo um destaque e uma enormidade de períodos a mais que outras disciplinas. Herança portuguesa e sua paixão pelo positivismo e sua inspiração cartesiana no cálculo, anti-iluminista coimbrense (Aliás, eu não sei como professores que têm o dobro de períodos que eu, e a metade do número de alunos, consegue reprovar 100 por cento a mais ... ???)

E cobra nota, muita nota. Cobra disciplina e obediência, cobra postura de adulto, mas vive-se em um estado ocorrencial policialesco onde os alunos são tratados como menores infratores, infantilizados pelo controle de atrasos e atas administrativas. Cobra-se maturidade mas trata-se com infantilidade.

Ah, e tudo é para o Vestibular. As provas objetivas predominam, para facilitar a correção dos esgoelados professores brazucas, e também porque é para o vestibular. Lê tais livros porque cai nos vestibular. O Ensino Médio virou um grande cursão pré-vestibular e perdeu a especificidade, é um nada. Ah, mas os mais espertos se deram conta que não funciona, porque temos que dar nota no ensino médio e isso não funciona quando se fala em vestibular onde a nota é algo ponderado entre várias disciplinas, então inventaram o Terceirão. Por que não erigir logo um Quarto ano?

Mas esse meio caminho entre a infância e a vida profissional continua vazio sem uma orientação vocacional. Sem um espaço onde o aluno possa imaginar o futuro. Um espaço criativo onde ele possa criar uma alternativa de vida nesse mundo tão surrado e egoísta. E aí ele se ressente daquilo que mais faz falta no mundo de hoje na educação: a arte. O vazio artístico, a miséria intelectual em que se encontram a maioria de nossos adolescentes não poderá jamais ser sanada se os senhores da educação não pensarem uma educação mais prática, artística, crítica e mais baseada na realidade cotidiana do aluno Brasileiro, que , meio às cegas, mas com sinceridade, busca ansiosamenete seu espaço na sociedade brasileira.

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