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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Salário

Tenho criticado aqui nesse blog publicamente a postura de certos colegas com relação a vários assuntos do cotidiano escolar: avaliação, violência, gramática, etc., mas isso não significa que eu não perceba muito claramente o que a maioria dos governos, sejam de instâncias diferentes, têm feito com aqueles que deveriam ser os profissionais mais bem pagos do mercado; os professores.

Em um não tão remoto passado os mestres lutavam por seus direitos em praça pública e eram aplaudidos e apoiados por toda a sociedade. Mães e pais de família pelo mundo afora tinham plena consciência que nas mãos daqueles preparados técnica e afetivamente para serem os transmissores, produtores e pensadores de uma determinada cultura residia o próprio futuro de toda uma sociedade e sua juventude.

Hoje há uma exagerada lente de aumento sobre nossas cabeças. Querem nos fazer pagar por tudo aquilo que jamais nos deram. Exigem de nós uma perfeição e uma capacidade que nenhuma sociedade jamais produziu. Uma grande confusão vem sendo feita pelos meios de comunicação a favor de certos grupos sociais inimigos da democracia e do desenvolvimento por conta do terror perpetrado a essa categoria que, se é uma tanto negligente em alguns aspectos profissionais, é muito mais uma grande vítima da circunstância.

Me dá profundamente nos nervos saber que os medíocres políticos brasileiros querem, mais uma vez, adotar para a tão precária educação do país modelitos importados da nação mais autoritária, competitiva e classista do mundo: os EUA. Como se já não bastasse o esdrúxulo tecnicismo que plasmamos do tio Sam (burramente defendido por muitos nobres colegas) querem agora viabilzar o fascismo em forma de lei: a meritocracia.

Ora, o professor trabalha muito, come mal, ganha pouco, não tem tempo de estudar, leva pilhas de trabalho pra casa, trabalha sábado, não pode fazer greve, e ainda tem que ser ótimo! Ridículo, não? Por que não fazemos o mesmo com os políticos que querem fazer isso conosco? Ou com os pais que apóiam essa idéia absurda de demitir quem aprova menos. Provavelmente querem delegar à escola sua ausência na educação familiar e culpar-nos por mais isso. Geralmente são esses mesmos que defendem com unhas e dentes o sistema seriado de aprova/reprova (eu, obviamente, não gosto desse sistema), mas querem punir o professor que reprova demais. Tenham paciência e me venham com um pouco de coerência.

Seria muito bom que o Brasil fosse a Finlândia. Lá o aluno decide o que quer estudar, o salário mensal é de 2500 Euros pra professores, não há nenhuma avaliação dos mestres, os alunos têm alto nível, todos ganham incentivos para estudar, e a educação vai muitíssimo bem, obrigado. A Finlândia teve um grande crescimento econômico por conta da adoção de um modelo descentralizado de educação nas últimas duas décadas. E nós, cucarachas que somos queremos logo pegar o paradigma americanóide, tão sectário. O Brasil é um país atrasado e tem uma elite retrógrada.

Ah, e não se pode falar em salário. Quem ganha mal tem que ser um ótimo profissional. Ser bom não tem nada a ver com ganhar bem. Religiosamente devemos respeitar nosso sacerdócio mitológico e nos esvoaçarmos como santos sobre as dificuldades, superando as barreiras materiais que nos impedem até de comer bem ou viajar. Não, quando falamos de qualidade de educação não podemos comparar o salário de um professor com o de um juiz, médico, engenheiro, político, ministro ou dos acéfalos jogadores de futebol. Não. Qualidade de educação, no Brasil, tem tudo a ver com reprovar demais e não com nosso medíocre salário.

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