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Professor, Músico, Audiófilo, Cientista Político, Jornalista, Escritor de 1968.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Avaliação

Avaliar é uma das atividades mais importantes que conheço. Analisar algo, avaliar determinado fato, pessoa ou lugar é algo que nos engrandece, nos humaniza. Como gostamos de ouvir um elogio depois de produzir algo significativo, e, é claro, uma boa crítica construtiva que nos fará mudar de atitude na hora de repetir um feito pra fazer melhor. Temos que ter muito cuidado ao investir nesse procedimento pois estamos mexendo com a auto-estima de alguém, seja este importante ou distante de nós.

Na rotina escolar, nem preciso dizer, a mensuração do aprendizado é algo fundamental. É a primeira conclusão, o espelho basilar que colocamos na frente do estudante pra que ele se mire, perceba suas dificuldades e deficiências e, em seguida, tente corrigi-las. Essa é a importância do Conselho de Classe (participativo) como instância essencial do processo avaliativo em termos coletivos, como orientação para o direcionamento do devir escolar.

Converso muito com meus alunos, os oriento, aconselho, ouço suas queixas na horinha de avaliar. Eles merecem esse retorno. Eles querem aprender (quase sempre) e se tornar seres humanos mais completos, mais acabados. Acredito que é o que a maioria ainda vem buscar na escola. Crescimento.

Aí, depois de todo o blá blá blá avaliativo, das risadas, filosofadas e gozos initerruptos sou forçado a atribuir a todo esse complexo ínterim um número. Número? Avaliar é algo, por natureza, qualitativo, e eu tenho que atribuir a isso uma grandeza? Ah, não dá. Ninguém é melhor que ninguém, ninguém é um número, a não ser talvez no sistema carcerário, nos cruéis treinamentos militares ou em uma fábrica. Nenhum aluno é um número ou uma letra para mim.

O que chamamos de nota ou conceito é algo esdrúxulo, inútil e injusto. Prejudica o processo pedagógico, ou melhor, o distorce. Meus colegas se utilizam do poder que têm sobre esse número para outorgar suas crueldades contra as pessoas que ensinam. Desumanizam tudo com seus somar e dividir, com cálculos mirabolantes pra dizer quem é melhor ou pior, ou ainda, quem vale mais. Vou mais além e chamo isso de dinheiro.

Essa moeda está em nossa propriedade, somos os banqueiros escolares (nosso salário é tão pequeno!), aqui somos ricos. Podemos tornar alguém pobre ou rico seguindo nossos próprios critérios. Somos como Deuses mágicos que classificam os pobres mortais segundo nossa própria sabedoria e competência, jogando no limbo da miséria aqueles que julgamos inaptos para o que nos interessa.

É uma grande doença, um vírus que se espalha e vai carcomendo a criatividade, o interesse, a verdade, a beleza de aprender. Isso mesmo, a nota é um vírus corrosivo. Já estamos tão acostumados com esse sistema de educação capitalizado que nem nos damos conta da imensa destruição que estamos causando ao (de) formarmos nossos alunos. Não importa aprender, basta passar.

Eu estudante tenho que ultrapassar essa barreira, e, não, aprender com ela. Tenho que usar de todos os expedientes para conseguir meu objetivo nem que seja fraudar (cola), mentir, enrolar, copiar, e, é claro, tudo com o menos esforço possível, pois aí sobra tempo pra coisas mais interessantes, verdadeiras e prazerosas como jogar futebol, andar de bicicleta, jogar vídeo-game, entrar na internet.

Eu, professor, não dou nota assim fácil não. Minhas provas são muito difíceis, e se eles não ficarem bem quietinhos como eu gosto, eu tiro nota deles, o que eles tão pensando?

Não. Se eles não passarem na minha matéria vão rodar só comigo, eu não passo ninguém, não dou pontos pra ninguém, nem que seja um gênio nas outras matérias. Os alunos é que têm que se adaptar a mim e não eu a eles. Eu ganho pouco mas tenho meu orgulho. E se for desrespeitoso já sabe: perde nota, anulo a prova e mando chamar a mãe, e não adianta ela vir cantar de galo comigo. Ela vai ver quem é que manda.

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